Entrevista a Helena Lucas – Gestão da Água no Algarve – Desafios e Soluções | Águas do Algarve
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Entrevista a Helena Lucas – Gestão da Água no Algarve – Desafios e Soluções

Gestão da Água no Algarve – Desafios e Soluções

Entrevista Helena Lucas– Diretora Direção Operação Água

 

1. GESTÃO DO SISTEMA MULTIMUNICIPAL DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA 

Gerir o sistema multimunicipal de abastecimento de água que abrange os 16 municípios do Algarve é uma responsabilidade enorme. Pode-nos falar um pouco sobre os principais desafios logísticos e operacionais que enfrenta no dia a dia para garantir o abastecimento de água?

A gestão operacional do sistema multimunicipal de abastecimento de água do Algarve é de grande responsabilidade, porque a Águas do Algarve, S.A.  presta um serviço contínuo de fornecimento de água para consumo humano, prioritário às populações e ao turismo e deste modo os principais desafios logísticos e operacionais têm como prioridade a existência de equipas operacionais tecnicamente competentes e a disponibilização dos recursos necessários para as diversas atividades operacionais de tratamento e de fornecimento de água.

 

2. CAPACIDADE DAS ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA

O Algarve conta com quatro Estações de Tratamento de Água. Qual é a capacidade de tratamento atual e como é que a empresa está a preparar-se para futuras necessidades, considerando o crescimento da população, o aumento do turismo na região e as “derradeiras” alterações climáticas?

O sistema multimunicipal de abastecimento de água tem capacidade para tratar o volume de água necessário para garantir o abastecimento público de água do Algarve, nas áreas abrangidas pelo sistema. Essa capacidade, devido à forte sazonalidade do turismo, está adaptada aos períodos de maior consumo nomeadamente na época alta e preparada para o eventual aumento do turismo ao longo de todo o ano.

O efeito das alterações climáticas na região na última década, com a diminuição da pluviosidade e a consequente escassez na disponibilidade hídrica, exige que a empresa reforce e torne o sistema ainda mais resiliente, quer com novas origens de água, como sejam a Dessalinização de Água do Mar e a captação de água no rio Guadiana no Pomarão, quer em relação à capacidade do sistema em alta para transportar maior volume de água tratada entre zonas de abastecimento no Algarve quando necessário e em situações de contingência.

 

 

3. SUSTENTABILIDADE E EFICIÊNCIA

Como está a empresa a trabalhar para aumentar a eficiência dos processos de tratamento de água e garantir a sustentabilidade ambiental em todas as operações? Existem novos projetos ou tecnologias em curso para reduzir perdas de água e melhorar a eficiência energética?

No que se refere à eficiência hídrica a Águas do Algarve, S.A. tem um nível muito elevado de desempenho, com perdas de água inferiores a 2% que tem sido mantido sucessivamente há mais de duas décadas. Isto é possível porque o sistema em alta é continuamente monitorizado em tempo real através de um sistema de telegestão operado em duas Salas de Comando, em Alcantarilha e em Tavira, onde Operadores 24 horas por dia e 365 dias por ano controlam o processo de tratamento da água e o fornecimento de água no sistema de adução até aos atuais 81 reservatórios municipais.

Em relação à eficiência energética, há novos projetos em curso para aumentar a produção de energia verde na empresa e atingir a neutralidade energética em 2030.Nesta área há uma oportunidade enorme de impulsionar a digitalização do setor com a previsão dos consumos e a combinação entre água e energia que tornará a empresa ainda mais sustentável.

 

4. TURISMO E PRESSÃO SOBRE OS RECURSOS HÍDRICOS

O turismo é uma das maiores fontes de rendimento para o Algarve, mas também exerce uma pressão significativa sobre os recursos hídricos, especialmente durante os meses de verão, em que a população praticamente triplica. Como é que a empresa equilibra o abastecimento de água entre as necessidades da população residente e os picos de procura provocados pelo turismo?

Em relação à adaptação do sistema de abastecimento de água às necessidades da região, nomeadamente pela pressão turística, a mesma é garantida pela capacidade existente no sistema quer em termos de tratamento, de reserva e de transporte da água tartada e pela adaptação das condições de operação à procura de água ao longo do ano.

 

 

5. RESPOSTA À ESCASSEZ HÍDRICA

O Algarve está a enfrentar um período de escassez hídrica. Quais as medidas de contingência e investimentos que estão a ser feitos para garantir que o fornecimento de água aos consumidores não seja comprometido?

Desde abril de 2022 que estamos em situação de contingência na zona de abastecimento mais a poente do Algarve, com a limitação de utilização na origem de água superficial da Bravura. Por essa razão, foi iniciado um conjunto de ações que inclui a integração de captações municipais no sistema em alta. 

Dado o agravamento da situação de escassez hídrica no Algarve no ano 2023, foi constituído um vasto programa de resposta à Seca no Algarve, a implementar em 2024 e 2025 através de suporte legal por RCM que prevê um conjunto de investimentos e financiamento pelo Fundo Ambiental para os diversos setores, Abastecimento público, Turismo e Agricultura. Este programa prevê que a empresa execute a construção de infraestruturas para resposta e mitigação, como sejam para o aproveitamento do volume morto da barragem de Odelouca e a integração no sistema e a reabilitação de captações municipais, bem como um apoio significativo para a sua operacionalização.  Inclui ainda uma vasta e importante campanha para sensibilização pública para a poupança no uso de água, com o projeto “Agua é Vida”. 

 

 

6. COOPERAÇÃO COM OS MUNICÍPIOS

Como é coordenada a cooperação com os 16 municípios para garantir uma gestão eficiente do abastecimento de água e a manutenção da qualidade da água fornecida?

A cooperação da empresa com os 16 municípios do Algarve no que se refere à gestão eficiente do abastecimento público de água e a manutenção da qualidade da água fornecida é efetuada com uma constante comunicação e partilha técnica sobre as condições operacionais do sistema.
A empresa comunica todas as intervenções e alterações que ocorrem no sistema em alta, quer formalmente - são anualmente enviadas várias dezenas de comunicações, quer diretamente com os serviços técnicos das diversas entidades gestoras em baixa.
Esta comunicação regular com as entidades gestoras em baixa, assegura uma confiança no serviço prestado pela empresa e a articulação necessária para a garantia da continuidade e qualidade do abastecimento público de água às populações. 

 

 

7. ABASTECIMENTO SEGURO E QUALIDADE DA ÁGUA

Fornecer água segura e de alta qualidade para o consumo humano é uma prioridade. Que medidas específicas são tomadas para garantir a segurança e a qualidade da água que chega às torneiras dos algarvios e dos turistas?

A empresa assegura o fornecimento contínuo e seguro de água para consumo humano aos 16 municípios do Algarve, atualmente em 81 pontos de entrega, ou seja, em reservatórios municipais.
 A qualidade da água fornecida é de excelente qualidade e segura, com uma conformidade acima de 99;8% e é mantida pelo controlo operacional dos processos de tratamento e de adução, sustentado num sistema interno coordenado por uma Equipa de Segurança da Água transversal na empresa e certificado por auditores externos no âmbito da NP EN ISO 22000:2021 de Sistemas de Gestão de Segurança Alimentar.
A certificação no âmbito deste referencial tem permitido à empresa reduzir os riscos para a saúde pública decorrente da sua atividade de fornecimento de água para consumo humano em alta, com ganhos de eficiência e uniformização de práticas operacionais. 

 

 

8. PLANEAMENTO FUTURO

O Algarve enfrenta desafios únicos devido às alterações climáticas e à crescente procura por água. Que planos estão a ser desenvolvidos para garantir a segurança hídrica da região a longo prazo?

Como é do conhecimento público, o investimento no âmbito do PRR no Algarve é significativo e permitirá assegurar maior resiliência ao abastecimento público de água na região. 
O investimento em curso trará o reforço de origens de água e trará maior segurança hídrica, onde se destaca o investimento na dessalinização de água do mar, que abre aqui um novo paradigma no setor, mais adaptado à escassez e mais preparado para explorar um “mix” de diferentes origens de água necessário e integrado para uma maior sustentabilidade.

 

 

9. LIDERANÇA E GESTÃO

Ser responsável pela gestão de um sistema tão complexo envolve uma grande liderança. Como mantém a sua equipa motivada e focada na missão de fornecer água de qualidade a toda a região? Que qualidades considera essenciais para gerir uma operação tão vasta e crucial?

É muito fácil manter a equipa operacional motivada e focada na missão de fornecer água de qualidade e em continuidade a toda a região. A equipa “veste a camisola” e o excelente resultado é de todos, para a empresa e para a região, sucessivamente.
As principais qualidades para estar nessa missão, são o foco permanente no serviço prestado, ou seja, “virados para fora”, com competência e em rigor e verdade, mesmo que se encontrem obstáculos difíceis e exógenos de ultrapassar como a escassez hídrica, mesmo que se proponham novos desafios a alcançar como a integração de novas origens de água, mas sempre com a mesma motivação de contribuir para o futuro da região.
Acreditamos também teremos as condições adequadas para a sua operacionalização e com devido reconhecimento pelo já trabalho realizado. 

 

 

10. EDUCAÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO

A empresa está a envolver a comunidade na sensibilização sobre a importância da preservação da água, existindo diversas iniciativas de educação ambiental para incentivar o uso consciente da água. Como vê esta prática? 

São essenciais os contributos e as iniciativas que a empresa desenvolve neste domínio da comunicação e sensibilização na região. 
Dada a intervenção que a empresa tem no setor ambiental, todos os públicos e utilizadores devem ser abrangidos na sensibilização e educação ambiental para o uso consciente da água. A empresa tem tido uma forte participação nesta área e tem diversificado as ações para ir mais longe e ter maior impacto na eficácia das medidas de consciencialização para o valor da água. Mesmo assim, tudo o que fazemos pelo Ambiente será sempre pouco, porque precisamos da atuação de todos!

 

 

11.PROJETOS E DESAFIOS 

Sei que estão em curso alguns projetos de investigação. Quer falar-nos sobre isso?

A empresa celebrou recentemente um acordo específico denominado CIRCULamETA, com o Instituto Superior de Engenharia (ISE) da Universidade do Algarve (UAlg) e o Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade (Itecons) de Coimbra, para incentivar a investigação na Economia Circular. Com este projeto pretende-se vir a incrementar a diversidade de incorporação de lamas produzidas nas estações de tratamento de água na indústria regional, para além da atual valorização na Cimpor de Loulé. Os estudos irão incidir na sua possibilidade de utilização quer em compósitos comentícios na construção, quer em aplicações geotécnicas. Também estamos a cooperar na investigação para a sua eventual aplicação na cerâmica regional. 
Estamos a preparar alguns projetos para submeter a candidaturas na área da digitalização, que consideramos ser uma necessidade muito importante para a partilha de informação e eficiência das operações.

 

 

12. PRÉMIOS ERSAR

A empresa tem vindo, consecutivamente a ser distinguida com Prémios ERSAR e Selos de Qualidade Exemplar. Quer falar-nos sobre isso e da importância dos mesmos para a empresa e para região?

A Águas do Algarve, S.A. foi reconhecida pela ERSAR relativamente à Eficiência Hídrica do sistema em alta, com a atribuição do respetivo selo da Qualidade Exemplar em 2023.Neste domínio a empresa tem demonstrado de forma exemplar o seu desempenho regular no que se refere à eficiência hídrica tão pretendida para o país e concretamente para a região.

Foi também distinguida com os selos da Qualidade para o Uso eficiente da água e do Serviço de Abastecimento Público de água (entre entidades) em 2020. 

Em 2020 e em 2023 recebeu o Prémio de Excelência de Abastecimento Público de água (entre entidades).

Congratulamo-nos pelo facto de grande parte das Entidades Gestoras em Baixa do Algarve também serem distinguidas sucessivamente com o Selo da qualidade exemplar de água para consumo humano. 

Este reconhecimento da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas, orgulha-nos, na medida em que continuamos a prestar um serviço eficiente e de excelência no abastecimento público de água no Algarve, há mais de duas décadas.E também nos motiva, para os desafios da resiliência e da qualidade e segurança da água para o futuro.

 

 

Muito obrigada

Teresa Fernandes